Na primeira viagem internacional do
ano, Dilma Rousseff vai a Cuba, para visita oficial na terça-feira, dia 31. Ela
se reunirá com o líder Raul Castro e visitará obras de porto financiadas em 80%
pelo Brasil. Um encontro com Fidel não está previsto, mas pode ocorrer. Após ir
ao Fórum Social, Dilma faz outro gesto à esquerda em ano eleitoral.
André Barrocal, via Carta
Maior
A presidenta Dilma Rousseff viaja
na segunda-feira, dia 30, à cidade de Havana, a capital de Cuba, para uma visita
oficial no dia seguinte. É a primeira viagem internacional da presidenta em 2012,
num giro que terá ainda, na quarta-feira, dia 1º, uma esticada até o Haiti, onde
o Brasil lidera forças de paz das Nações Unidas desde 2004.
Dilma decolará para Cuba a partir
de Salvador, onde cumpre agenda na segunda-feira. Como pousará só no fim do dia,
não terá compromissos oficiais e, segundo assessores governamentais, nem particulares.
Seguirá direto para o hotel.
Na terça-feira, dia 31, Dilma fará
uma visita ao memorial José Martí, um dos pontos históricos de Havana, e, depois,
irá ao Palácio da Revolução, para uma reunião com o chefe do governo cubano, Raul
Castro. Além do encontro privado entre ambos, deverá haver uma outra reunião, mais
ampla, com a presença de ministros dos dois lados.
Por enquanto, não está na programação
de Dilma um encontro com Fidel Castro, irmão de Raul. O que não significa que não
possa acontecer, segundo assessores diplomáticos brasileiros – na última vez que
o ex-presidente Lula foi à ilha, o encontro dele com Fidel foi acertado na hora.
À tarde, depois das reuniões com as
autoridades cubanas, a presidenta vai visitar as obras de um porto que está sendo
construído no litoral cubano com 80% de financiamento brasileiro, o Porto de Mariel.
Segundo os dois países, a obra, orçada em US$850 milhões, vai ajudar a melhorar
o comércio exterior da Ilha.
Com o Brasil, o comércio exterior
cubano movimentou US$640 milhões, considerando o fluxo de mercadorias nos dois sentidos.
A ida da presidenta a Cuba é o mais
um sinal político à esquerda emitido por Dilma neste início de 2012, ano em que
haverá eleição municipal. Na semana passada, a presidenta foi ao Fórum Social Temático,
uma versão reduzida do grande encontro da esquerda e dos inimigos do neoliberalismo.
Dilma teve a chance – foi convidada –, mas não foi ao Fórum Econômico Mundial, em
Davos, na Suíça, uma espécie de antítese do Fórum Social.
Guerra Fria
No encontro em Porto Alegre, Cuba
e a viagem de Dilma foram notícia, durante debate sobre o livro Os últimos soldados
da Guerra Fria, do escritor e jornalista Fernando Morais.
O livro conta a história de cinco
cubanos presos e condenados na Flórida, reduto de organizações anticastristas nos
Estados Unidos, por participarem de um grupo criado pela inteligência castrista
para impedir atentados terroristas contra a ilha. Para a Justiça norte-americana,
porém, os cinco eram terroristas e espiões.
“Foi um processo absolutamente injusto”,
afirmou o escritor, que lançará a obra em Cuba em abril ou maio, em seguida nos
EUA e, ainda este ano, em Portugal, México e Espanha. “As pessoas precisam saber
o que é essa indecência”, disse, para quem há uma “máquina de desinformação mundial”
a disseminar apenas a versão norte-americana.
No debate, Morais, especialista em
Cuba, foi questionado se acreditaria que Dilma poderia – e conseguiria – interceder
junto ao governo dos EUA para que os Cinco, que são considerados heróis nacionais
em Cuba, fossem soltos – um deles está condenado a duas prisões perpétuas.
Dilma deve se encontrar com o presidente
Barack Obama em março, em viagem oficial aos EUA, um ano depois da vinda dele ao
Brasil, e poderia levar algum recado de Raul a Obama. Há inclusive uma “moeda de
troca”, um norte-americano preso recentemente em Cuba, por tentar entrar no país
sem declarar todos os equipamentos que tinha, levantando suspeitas sobre suas intenções.
Morais não acredita, contudo, que
Dilma teria sucesso, caso tentasse, numa eventual intermediação entre Raul e Obama,
ao menos neste assunto.
O escritor também comentou o caso
da blogueira Yoani Sanchez, que discorda do regime castrista e usa a internet para
criticá-lo. Quando soube que Dilma iria a Cuba, Yoani pediu um visto ao governo
brasileiro, para vir ao país. O Ministério das Relações Exteriores aceitou dar um
visto especial de 90 dias, mas a blogueira ainda precisa de autorização das autoridades
do país dela para viajar.
Segundo Morais, ajudar Yoani é ficar
contra a Revolução Cubana, que ele encara como positiva para A Ilha, título de um
famoso livro que ele escreveu sobre aquele país.
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