Via Colcha de Ideias e lido no
Vi
o mundo
Na última semana de 2011, o Jornal Nacional apresentou uma série de reportagens
sobre Cuba. Só a proposta já é desconfortável. A grande mídia brasileira voltando
seus olhos para a nação socialista. É no mínimo estranho!
O primeiro capítulo da reportagem mostrou sob a ótica de uma única cidadã,
que diga-se de passagem morava nos Estados Unidos (aquele do bloqueio econômico),
as condições de vida na ilha. Primeira questão: como uma reportagem que se propõe
séria julga o todo pela experiência de um
cidadão?
O segundo fator incômodo da reportagem foi a ironia jornalística. Ao tratar
sobre a medicina de Cuba, mundialmente reconhecida, a dita cidadã relatou que para
conseguir atendimento médico no país, precisa dar presente aos médicos, afirmação
que foi tomada como verdade sem nenhum tipo de averiguação e agora milhões de pessoas
estão realmente acreditando nisso! A pergunta que se faz é: será que é isso mesmo?
Vejamos:
De acordo com o Relatório do Índice de Desenvolvimento Humano 2011, da Organização
das Nações Unidas (observe aqui)
A expectativa de vida na Ilha é de 79 anos, relativamente alta para quem não tem
assistência médica, certo? O IDH do país ocupa o 51º lugar, que de acordo com a
ONU é considerado elevado, o Brasil amarga a 84ª posição. Sobre a questão de igualdade
entre os gêneros, Cuba é tida como a sociedade mais igualitária da América Latina
em termos de gênero. A média de filhos está em menos de dois por mulher, com 100%
dos partos assistidos, e o acesso aos métodos contraceptivos é considerado
fácil.
A desnutrição infantil está na casa dos 4% e a taxa de mortalidade infantil
é de 6 para cada 1.000 crianças nascidas vivas; na Noruega, primeiro IDH do planeta,
essa proporção é de 3/1.000 e nos EUA de 8/1.000. Estudos sobre educação indicam
que na Ilha existe uma proporção de um mestre para cada 42 habitantes, o que sugere
que a população, por mais pobre que seja, tem acesso à educação. De acordo com o
relatório, a população com ensino médio chega a quase 80%.
As imagens da série de reportagem nos fazem imaginar um país fantasma, sem
vida, com um governo altamente repressor. A proposta aqui não é indicar a Ilha como
o paraíso perdido, mas relativizar e questionar o jornalismo feito pela Globo. Olhares
atentos verão que as coisas não são tanto como a Rede Globo pinta.
No segundo episódio da série vimos casas bem cuidadas e pessoas elegantes
dando entrevista. O que a série não destaca é que o problema do aspecto fantasmagórico
da Ilha está muito mais relacionado ao bloqueio econômico liderado pelos EUA do
que no regime comunista. Pelo contrário, afirmam que a economia do país está destruída
e sugerem que a culpa é do modelo social. E mais, que Raul Castro está abrindo a
economia cubana dando a esperança do povo viver o sonho capitalista! Oi? Esse tipo
de reportagem demonstra amadorismo e falta de responsabilidade da emissora em se
basear em “achismos” na formação da opinião pública!
Há quem diga que os dados dos relatórios da ONU, por serem enviados pelos
próprios países, podem ser manipulados, tudo bem, talvez até possam, mas com todas
as fragilidades da ONU, creio que os índices dela sejam mais confiáveis que os de
uma universidade estadunidense, tendo em vista que os EUA são os principais interessados
em implodir o regime cubano.
É isso, não podia deixar o ano virar sem publicar esse artigo. Que em 2012
a prudência jornalística nasça da Rede Globo! Hasta la Revolución!
Leia também: O
protesto do leitor sobre Globo e Cuba
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