Mariângela Costa Vieira, via Inverso
do Contraditório
A igualdade entre os sexos e autonomia
da mulher não se configura apenas em mais um objetivo de desenvolvimento do milênio
– acordado pelos países-membros da Organização Mundial de Saúde (OMS) – e cumprido
por Cuba.
Além da erradicação do analfabetismo
e de possuir baixíssimas taxas de mortalidade infantil, o país dirige esforços concretos
para o desenvolvimento integral do povo cubano com o compromisso inegável do estado
e participação ativa da sociedade civil. E, dentro da organização da sociedade cubana,
chama a atenção o protagonismo feminino. A despeito de ser um país latino e, como
outros, machista, Cuba encontra em sua história motivos fortes para retirarmos tal
título pejorativo.
As fontes de informação realistas
sobre a Ilha, mesmo para nós – simpatizantes do regime –, são escassas e reticentes.
O escamoteamento da participação das mulheres no triunfo da Revolução é um exemplo
disso. E não foram poucas, nem coadjuvantes essas heroínas. Entre elas: Haydée Santamaría,
a qual foi uma das mulheres que participaram do histórico 26 de julho de 1953 ao
assalto ao quartel Moncada liderado por Fidel Castro. Célia Sanchez – considerada
a “flor da Revolução Cubana” – a qual ingressou no movimento 26 de julho com uma
função estratégica de preparar condições que pudessem garantir o êxito do plano
de Fidel e os outros exilados e organização do desembarque do Granma.
Logo após o triunfo da Revolução,
em 20 de agosto de 1960, foi criada a Federação de Mulheres Cubanas (FMC), com a
fusão de todas as organizações femininas revolucionárias existentes. A qual tem
como objetivo principal alcançar a ampla participação das mulheres na vida econômica,
política e social do país. E assim como os CDRs (Comitês de Defesa da Revolução),
aos 14 anos as meninas se filiam e começam a sua formação política e atuação de
destaque na sociedade, criando consciência de suas capacidades e possibilidades.
Esse movimento de organização de massa teve Vilma Lucila Espín Guillois como impulsionadora
e dirigente, considerada sua eterna presidenta. Presidiu ainda a Comissão de Atenção
à Juventude, Infância e Igualdade de Direitos do Mulher no Parlamento Cubano.
Atualmente, as mulheres cubanas ocupam
cerca de 40% dos cargos parlamentares (sem que sejam definidas cotas) e existe paridade
no nível primário de ensino e que as meninas superam os meninos nos níveis escolares
secundário e terciário. Podemos perceber tal atitude em muitos momentos de nosso
estágio. Desde a chegada à Ensap (Escola Nacional de Saúde Pública), quando pudemos
perceber que as coordenadoras e a maioria das professoras era mulher. Até o contato
com médicas, enfermeiras, deputadas, todas elas eloquentes e muito capacitadas.
A legalização do aborto, conquistada
ainda nos anos de 1960, nos mostrou também como se prioriza a autonomia e respeito
à mulher nesse país. As mulheres podem exercer suas escolhas na área da reprodução
e realizar abortamento seguro até as 12 semanas de gestação. Mesmo que não sejam
vítimas de estupro ou que a gestação não apresente risco de morte materna, como
ocorre no nosso país. Assim como o Brasil, Cuba é um estado laico, porém diferentemente,
as mulheres, não são vítimas de preconceito conservador religioso, nem tampouco
podem ser criminalizadas.
A estimativa é de que por ano ocorrem
no mundo 70 mil mortes maternas derivadas do aborto inseguro. Quase a totalidade
desses óbitos está concentrada em países da África, Ásia, América Latina e Caribe.
Segundo conversas com professoras durante o estágio, a proporção de abortamentos
em relação a nascidos vivos é de 2 por 1. Entretanto, Cuba não contribui com a estimativa
de 3,9 milhões de abortos inseguros realizados na América Latina e Caribe.
Esses são alguns dos muitos ensinamentos
que esse pouco tempo em Cuba pode nos mostrar. O desenvolvimento de uma sociedade
e autonomia da mulher constituem partes indivisíveis de um mesmo processo revolucionário.
Como disse Fidel: “As mulheres cubanas são a revolução dentro da própria revolução.”
“A justiça, a igualdade de mérito, o trato respeitoso
do homem, a igualdade plena do direito: isso é a revolução”. José Martí
Mariângela Costa Vieira é médica brasileira de Família e Comunidade
na cidade de Maragogipe (interior do estado da Bahia) e estagiou em Cuba entre os
dias 18 de novembro e 3 de dezembro de 2011.
Em Cuba, homens e mulheres têm os mesmos direitos...nenhum!!!!
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