Mario Augusto Jakobskind, via Quem
tem medo da democracia?
Quando se aproxima a visita do papa Bento 16 a Cuba, já se falando inclusive
de um possível encontro entre o chefe da Igreja Católica e Fidel Castro, um tema
pode entrar na pauta de discussões: os quatro cubanos presos nos Estados Unidos.
O que seria o quinto foi solto, mas impedido de voltar para Cuba durante três anos.
Além de terem sido condenados sob a absurda alegação de serem espiões, os
5 foram julgados sob pressão de extremistas vinculados a grupos do exílio cubano
em Miami mobilizados há anos com o objetivo de desestabilizar o governo da ilha
caribenha.
O cubano solto e sem poder regressar para seu país de origem, além de ser
obrigado a usar um objeto eletrônico no tornozelo para controle de seus passos,
continuará vivendo por três anos na mesma cidade onde moram os extremistas responsáveis
por atentados ocorridos em Cuba e que foram denunciados exatamente pelos 5. Trata-se
de uma das maiores aberrações jurídicas no mundo nos últimos tempos.
O senador Eduardo Suplicy, do PT de São Paulo, assumiu compromisso público
de sugerir que a presidenta Dilma Rousseff peça ao presidente dos Estados Unidos
Barack Obama que faça justiça e ordene a libertação deles. É difícil, mas tentar
não custa, apesar dos votos de Miami que Barack Obama quer abocanhar.
A promessa foi feita durante o lançamento do livro de Fernando Morais, Os últimos soldados da Guerra Fria, realizado
por ocasião do Fórum Social Mundial Temático, em Porto Alegre, no Sindicato dos
Bancários. A sugestão foi aplaudida pelos presentes, um deles o ex-governador do
Rio Grande do Sul Olívio Dutra.
Suplicy achou a ideia “excelente” e se comprometeu a falar com Dilma Rousseff
sobre o tema, bem como fazer um pronunciamento no Senado em favor dos 5 cubanos
presos nos Estados Unidos. Aguarda-se então que o parlamentar cumpra sua palavra.
Não custa nada lembrar a Suplicy da importância de Dilma Rousseff fazer
a sugestão a Obama, com quem se encontrará no próximo dia 14 de abril, pois com
uma canetada do presidente da República os 5 poderão voltar para Cuba imediatamente.
Quem quiser se comunicar com o senador petista para lembrá-lo pode mandar
um correio eletrônico para eduardo.suplicy@senador.gov.br ou então pelo telefone
(61) 3303-3213 ou fax (61) 3303-2816.
Dilma Rousseff agora tem de mostrar que seu governo não está sendo submetido
a pressões, como alguns acreditam acontece. Tal argumento é levantado sobretudo
depois do voto do Brasil na Organização das Nações Unidas ao lado dos Estados Unidos,
Reino Unido, França etc., culpando apenas o governo sírio pelo banho de sangue que
acontece naquele país árabe, absolvendo totalmente a oposição, que segundo denúncias
estaria recebendo ajuda de forças estrangeiras dos EUA a Al Qaeda, passando pelo
Mossad e M-16 britânico.
Já o Ministério do Exterior russo afirmou, por intermédio do porta-voz Alexander
Lukashevich, que o Observatório Sírio de Direitos Humanos, que informa diariamente
ao Ocidente sobre os acontecimentos na Síria, é integrado por duas pessoas, o diretor
R. Abdurajman e um tradutor. Ambos vivem em Londres e o diretor é proprietário de
uma cafeteria. Fica como sugestão de pauta para os jornalões entrevistarem o “bem
informado” Abdurajman.
Outro tema que de modo geral a mídia de mercado tem ignorado são os recentes
acontecimentos na Líbia, onde o país retornou à Comissão de Direitos Humanos das
Nações Unidas, depois de excluído nos últimos meses do governo de Muammar Khadafi.
O representante do Conselho Nacional de Transição fez um pronunciamento
nesta esfera posicionando-se contra os gays, dizendo que esse grupo é pernicioso
à humanidade. Na prática, o governo líbio imposto pela Otan está reforçando a homofobia.
Como se não bastasse, notícias procedentes da Líbia dão conta que seguem
as violações dos direitos humanos praticadas pelo governo títere da Otan. Há informações
segundo as quais os 35 mil habitantes da localidade de Tauerga, a maioria negros,
vivem atualmente em campos de refugiados. Estão sendo vítimas das milícias de Misrata
por terem apoiado Muammar Khadafi.
Os líbios de Tauerga descendem de escravos levados à Líbia no século 18.
Eles são agradecidos a Khadafi por terem as suas condições de vida melhorada. O
governo anterior possibilitou aos habitantes da cidade, que dista pouco mais de
30 quilômetros de Misrata, educação e ainda por cima tiveram integrantes nomeados
para altos postos no Exército.
Durante a guerra civil combateram contra Misrata, cujas milícias agora estão
cometendo atrocidades sob o beneplácito dos dirigentes líbios atuais e o silêncio
da aliada Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Outro fato que indica como está a situação no país bombardeado durante mais
de oito meses pela Otan é o de uma jornalista. Hala Misrati, de 31 anos, apresentadora
de TV, conhecida defensora do governo Khadafi, foi presa pelo governo do Conselho
Nacional de Transição e assassinada depois de sofrer torturas e estupros, segundo
relato de jornalistas.
Misrati era militante e quando da captura de Trípoli pelo CNT apareceu na
TV desafiando de arma na mão os que tomavam o poder com a ajuda da Otan. Agora,
para se vingar, os democratas líbios a assassinaram. O atual governo confirmou a
morte da jornalista, mas sem entrar em detalhes.
Pode-se imaginar como serão as eleições na Líbia marcadas para o segundo
semestre deste ano.
Enquanto isso, Israel anunciou a aprovação da construção de 500 casas adicionais
na colônia de Shilo, localizada entre as cidades palestinas de Ramallah e Nablus,
na Cisjordânia.
E o governo de Benyamin Nethanyahu continua a dizer cinicamente que almeja
a paz. O troglodita que comanda Israel criticou o recente acordo da Al Fatah com
o Hamas e usa o pretexto como justificativa para interromper qualquer tipo de negociação.
Trata-se de sofisma, porque na prática com a construção de novos assentamentos,
Israel demonstra que não quer mesmo nenhum tipo de acordo. Muito pelo contrário,
quer levar adiante o projeto bíblico da Grande Israel. E quem sofre com isso são
os palestinos, um povo que há anos tenta em vão ter uma pátria livre e soberana.
E além do mais, setores da ultradireita de Israel, cujo representante mais
notório é o atual Ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, defendem um ataque ao
Irã. É possível que estejam informados que o Hezbollah, segundo o professor Luís
Alberto Moniz Bandeira, possui 10 mil mísseis escondidos em residências particulares
apontadas para Israel.
Como desprezam a vida humana, pode ser que queriam mesmo correr o risco.
Mario Augusto Jakobskind é jornalista. Tem no blog Quem tem medo da democracia?
um “Céu de Montevidéu”.