
Não faz muito tempo, li no portal
do jornal O Estado de S.Paulo na
internet um artigo de uma das marionetes dos barões da imprensa atacando o que
chamou de “jornalismo cidadão”. O sujeito dizia que blogs como este não teriam
qualidade jornalística, não checariam informações como a grande imprensa, e
que, portanto, não seriam confiáveis.
Naquele momento, a primeira coisa
que me veio à mente foi a ficha policial falsa que o jornal Folha de S.Paulo recebeu por e-mail de
fonte anônima há alguns anos e publicou no alto de sua primeira página, com o
maior destaque possível. Fiquei me perguntando como alguém pode ser tão
cara-de-pau a ponto de dizer que uma imprensa que faz isso seria mais confiável.
Para fortalecer sua teoria, o
teleguiado da família Mesquita usou como “exemplo” de sua tese notícias
veiculadas por blogs sobre desaparecidos durante o massacre do Pinheirinho. O
tal “blogueiro” do Estadão mentiu
dizendo que blogs anunciaram mortes, quando anunciaram desaparecimentos.
O fato é que a blogosfera tem
sido um exemplo de bom jornalismo, pois, quando erra, faz suas reparações e
permite espaço ao contraditório de suas diversas linhas editoriais,
contraditório esse que a grande imprensa nega a quem dela diverge.
Se checagem rigorosa de
informações for evidência de bom jornalismo – e é, apesar de não ser a única –,
a mídia da ficha falsa da Dilma ou do grampo sem áudio no STF agora tem mais um
passivo, a morte iminente de Hugo Chavez que começou a ser anunciada em janeiro
e que na última quinta-feira, dia 16, foi endossada, sem checagem, pelo
“imortal” Merval Pereira.
Leia, abaixo, post de Merval em
seu blog no qual “mata” Hugo Chavez.
***
16/2/12
Quadro
grave
A saúde do
presidente Hugo Chavez, da Venezuela, pode afetar a eleição presidencial. Os
últimos exames, analisados por médicos brasileiros, indicam que o câncer está
em processo de metástase, se alastrando em direção ao fígado, deixando pouca
margem a uma recuperação.
Como a eleição
presidencial se realiza dentro de 8 meses, a 7 de outubro, dificilmente o
presidente venezuelano estaria em condições de fazer uma campanha eleitoral que
exigirá muito esforço físico, pois a oposição já tem em Henrique Capriles um
candidato de união.
O ex-embaixador
dos Estados Unidos na OEA, Roger Noriega, invocando informações de dentro do
governo venezuelano, escreveu artigo recentemente no portal de internet da
InterAmerican Security Watch intitulado “A grande mentira de Hugo Chavez e a grande
apatia de Washington”.
Nesse artigo
ele dizia que o câncer está se propagando mais rapidamente do que o esperado e
poderia causar-lhe a morte antes mesmo das eleições presidenciais.
***
Em primeiro lugar, que “exames
analisados por médicos brasileiros” são esses? Quem são os tais “médicos
brasileiros”? Como os tais “exames” foram obtidos? A mídia, que acusa blogs de
não checarem informações, ignora cuidados mínimos ao divulgar uma notícia dessa
gravidade, que, sendo verdadeira, teria implicações estrondosas na geopolítica
das Américas.
Merval não checou nada e ainda
trocou as bolas. Confundiu matérias que saíram em órgãos de imprensa espanhóis
e norte-americanos que fazem oposição cerrada a Chavez com uma notícia
divulgada pela “Folha.com” em julho do ano passado. Leia a matéria, abaixo:
***
19/7/2011
Exames
mostram que Chavez tem câncer de próstata, dizem médicos
Profissionais
brasileiros que tiveram acesso aos exames de Hugo Chavez dizem que o presidente
venezuelano tem câncer de próstata.
A informação é da
coluna de Mônica Bérgamo publicada nesta terça-feira na Folha e cuja íntegra está disponível para assinantes do jornal e do
UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
A informação,
contudo, não foi confirmada pelo urologista Miguel Srougi, especialista em
câncer de próstata que foi chamado para a reunião com os diplomatas
venezuelanos.
Ele prefere
manter o silêncio para evitar falhas e diz que Chavez “fez muito bem” de ir
para Cuba, onde terá a intimidade preservada.
Chavez revelou
ter câncer em 30 de junho, após semanas de especulação, em uma mensagem lida em
rede nacional em Havana, onde deveria encerrar uma turnê de visitas iniciada no
Brasil no começo do mês.
Menos de quatro
dias depois do anúncio da doença, Chavez retornaria de surpresa a Caracas, às
vésperas do aniversário de 200 anos do país.
Naquele
momento, ele anunciou ter feito duas cirurgias em Cuba – uma delas para a
retirada de um tumor. Chavez não informa que órgãos ou tecidos foram atingidos
pelo câncer nem qual seu estágio. Negou, porém, que a doença tenha atingido o
cólon ou o estômago.
A coluna de
Bergamo de sábado (16) já apontava indícios de lesão na próstata do presidente
venezuelano, mas ressaltava que mais exames eram necessários.
Até semana
passada, tudo indicava que Chavez viria ao Hospital Sírio-Libanês, em São
Paulo, para fazer sessões de quimioterapia contra seu câncer, como fez seu
colega paraguaio, Fernando Lugo, que sofreu de câncer linfático no ano passado.
No sábado, dia 16,
contudo, Chavez chegou à Cuba, onde informou que deseja seguir o tratamento
quimioterápico para câncer. Ele não descartou uma visita futura ao Brasil, no
entanto.
***
Além de preguiçoso – ou
mal-intencionado – ao checar informações, Merval nem soube identificar a origem
de boatos que pretendem apenas desestabilizar, tanto na Venezuela quanto no
exterior, a candidatura de Chavez à reeleição.
Quem saiu primeiro com essa
história de metástase do câncer de próstata do líder venezuelano foi o diário
norte-americano Wall
Street Journal, em novembro do ano passado. Diz o journal:
***
Os relatórios,
com base em entrevistas com pessoas que tiveram acesso à equipe médica de
Chavez, alimentam rumores recentes de que o homem que governa a Venezuela desde
1999 não será saudável o suficiente para disputar a reeleição em outubro,
potencialmente jogando o futuro político do país em dúvida.
***
No final do mês passado, o diário
espanhol ABC, que faz oposição a
Chavez – bastando, para comprovar, fazer busca de seu nome no sítio do veículo,
onde se constatará uma impressionante artilharia contra ele –, publicou matéria
anunciando que o venezuelano teria um
ano de vida a menos que aceite um tratamento intensivo.
O artigo do ex-embaixador dos
Estados Unidos na OEA Roger Noriega, invocado por Merval, baseia-se nas mesmas
invenções sobre “médicos” que teriam “analisado exames” de Chavez e concluído
que seu câncer estaria se espalhando rapidamente.
Chega a ser ridículo achar que
médicos brasileiros, espanhóis e norte-americanos teriam tido acesso livre a
exames de um Chavez que nega peremptoriamente que sua doença tenha-se agravado
e que certamente toma todos os cuidados com informações sobre a própria saúde.
Aliás, não se entende de que
adiantaria um homem que tem menos de um ano de vida disputar uma eleição. Sendo
eleito em outubro, se seu estado de saúde moribundo fosse real, ele não viveria
para assumir o cargo. Teria de estar louco para se meter em tal empreitada
sabendo que mesmo vencendo a eleição seria derrotado.
A estratégia da direita midiática
internacional é óbvia: acha que pode fazer o povo venezuelano deixar de votar
em Chavez com medo de que ele morra e deixe o país acéfalo.
Chavez praticamente não deu bola
a uma notícia que já corre o mundo há semanas e que chega atrasada ao Brasil. Aliás,
fez troça. Mas os mervais e os PIGs espalhados pelo mundo mergulharam de cabeça
no que julgam um filão, cheios de esperança que estão no candidato com que a
direita venezuelana deve tentar retomar o poder, o tal de Henrique Capriles.
Se essa direita midiática não
fosse tão preguiçosa e tivesse se dado ao trabalho de fazer o que este
blogueiro fez muitas vezes ao incursionar nos cerros (morros) de Caracas, desjejuando arepa (espécie de pão sírio), suero
(coalhada) e té (chá) enquanto
ouvia o verdadeiro povo venezuelano, entenderia o que jamais entendeu.
Chavez não é causa, é
consequência. Assim como Evo Morales, Rafael Correa, Lula e outros presidentes
progressistas que decorreram da onda de governos de esquerda que na década
passada varreu a América Latina, ele é o braço político do povo. Se morresse, o
povo acharia um substituto.
Essa gente não entende que a
morte de Chavez o transformaria em um mártir e permitiria a seu partido eleger
qualquer “poste”, sem falar na fúria que seria desencadeada entre a imensa
maioria de venezuelanos que o apoia com a alma não por ele mesmo, mas porque é
o campeão que aquele povo encontrou para reverter a concentração de renda que
esmagou a Venezuela por décadas.
O povo venezuelano já está
escolado. Em cada uma das sucessivas eleições que Chavez venceu sem que
houvesse um único questionamento sério e reconhecido, até a antevéspera de cada
um daqueles pleitos a direita midiática sempre disse que daquela vez ele
estaria derrotado por antecipação.
Chavez não está moribundo, quem
está é essa direita demente que jamais entendeu que ao menos nesta parte do
mundo os povos já sabem que não podem permitir que ela volte a governar até que
o mal que perpetrou ao longo de séculos seja desfeito. Chavez, portanto, viverá
para assistir ao enterro político dessa gente.
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