Maria do Carmo Luiz Caldas Leite,
via Portal
Maurício Grabois
“Yo soy
un hombre sincero de donde crece la palma y antes de morirme quiero echar mis versos
del alma. Oculto en mi pecho bravo la pena que me lo hiere: el hijo de un pueblo
esclavo vive por él, calla y muere.” José Martí
Quando da chegada dos espanhóis a Ilha, em 1492, Cuba era habitada por indígenas.
Há quem se refira piedosamente a essa realidade como o encontro de duas culturas.
Os nativos foram utilizados em trabalhos rudes, enquanto a Espanha introduzia em
Cuba a propriedade privada. O enriquecimento dos colonizadores apoiou-se na submissão
imposta aos nativos e inserindo na Ilha o regime de servidão feudal. Os registros
da sociedade produzida pelo açúcar e a história da escravidão têm interfaces de
séculos com profundas marcas na sociedade cubana. Os negros alavancaram um desenvolvimento
material discriminatório, mas com seu espírito de rebeldia semeou-se o caminho da
independência.
Em 1868, no marco inicial das guerras de libertação, o colapso do colonialismo
na Ilha era iminente, porque todas as classes sociais do país repudiavam o regime
imposto. A burguesia açucareira cubana, ainda que colaborasse economicamente com
a insurreição, estreitava seus contatos com os Estados Unidos. Esses fatos foram
profundamente marcados pela trajetória de José Martí (1853-1895), o “apóstolo” nacional
de Cuba, homem de pensamento aliado à ação, que soube vincular a beleza ao verso
e à prosa. O jornalismo, conjugado com a atividade política, ocupou grande parte
de suas atividades. Como professor, Martí ganhou a vida nas fases difíceis, mas
não foi pedagogo no sentido estrito do termo, pois sua profissão foi a de advogado.
Em seus 42 anos de vida, os temas educacionais ocuparam significativo espaço na
obra de Martí. Como estudioso não apenas dos problemas da instrução em Cuba, mas
de todos os países de continente americano, onde teve a oportunidade de viver, Martí
elaborou um pensamento pedagógico, com a urgência das sonhadas repúblicas. A síntese
desse ideário constitui, até hoje, um paradigma para a educação dos povos de Nuestra
América. Martí possuía um referencial teórico – que evoluiu historicamente – no
qual a Educação é concebida como uma estratégia para o desenvolvimento do homem,
com base numa legítima cultura ajustada à realidade latino-americana, livre e integral,
que ultrapasse as fronteiras do utilitarismo e as caricaturas de outras latitudes.
Martí iniciou sua participação política escrevendo a jornais separatistas.
Com a prisão de seu mestre Rafael Mendive, cristalizou-se a atitude de rebeldia,
que Martí nutria contra a dominação espanhola. Em 1869, foi condenado a seis anos
de trabalhos forçados, mas passou somente seis meses na prisão, pois conseguiu permutar
a pena pela deportação à Espanha. Dedicou-se ao estudo do Direito, obtendo o diploma
em Filosofia e Letras na Universidade de Saragoza, no ano de1874. Entre 1881 e 1895,
viveu em Nova Iorque, mas foi no México, na Guatemala e na Venezuela que alcançou
o mais alto grau de identificação com a autoctonia da América, até o momento desconhecido
para um filho de espanhol. Em 1882, trabalhou para La Nación da Argentina. Num confronto
com tropas espanholas, em 19 de maio de 1895, nos alrededores do vilarejo de Dos
Ríos, Martí foi alvejado. Seu corpo, mutilado e exibido à população, teve sepultamento
na cidade de Santiago de Cuba. No final do século 19, com o exército mambí dissolvido,
o povo cubano foi arrastado à profunda miséria, pois a luta contra o colonialismo
não culminou com a vitória. Coerente com as dificuldades de sua época, a própria
morte foi a expressão de seus princípios.
Segundo Martí, “pelear es una cosa y gobernar otra”. Das guerras da independência
no século 19, a historiografia cubana permitiu mais do que uma mera relação de feitos
militares e assuntos bélicos. A análise dos conflitos, por diversos ângulos ideológicos,
mostra que suas consequências se estendem até os nossos dias. A herança do neocolonialismo
predatório impôs a unidade, como estratégia política. A Revolução Cubana se inspirou
nos ideais organizativos de Martí, denunciante em sua época da notória desunião
das forças favoráveis à independência.
Decorridos 117 anos desde a queda em Dos Rios, o legado de Martí, com sua
carga de ensinamentos, ainda desperta a clara consciência de que as contradições
internas desencadearam a intromissão de forças expansionistas estadunidenses, mediante
inúmeras tentativas para dominar a Ilha. A Revolução Cubana se inspirou nos ideais
organizativos de Martí, denunciante em sua época da notória desunião das forças
favoráveis à independência. Contudo, recorrendo às palavras do herói nacional de
Cuba, “perder uma batalha não é mais do que a obrigação de ganhar outra”.
Maria do Carmo Luiz Caldas Leite é membro da direção municipal do PCdoB de Santos,
professora de Física e mestre em Educação.
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