Filipe Zau, via Jornal de
Angola e lido no Solidários
O relatório “Progresso para a Infância, um balanço sobre a nutrição”,
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), afirma que Cuba é o único
país da América Latina e Caribe livre da desnutrição infantil. Também a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)
reconheceu Cuba como a nação com mais avanços na América Latina na luta contra
a desnutrição. Na região, a América Latina tem 53 milhões de pessoas que passam
fome. Só no México há 5,2 milhões de pessoas desnutridas e no Haiti 3,8 milhões.
Em outros países em desenvolvimento existem cerca de 146 milhões de
crianças, menores de cinco anos, abaixo do peso ideal e, em muitos casos, com
ameaça das suas próprias vidas. De acordo com este informe: 28% estão na África
Subsaariana; 17% na África do Norte e no Oriente Médio; 15% na Ásia Oriental e
Pacífico; e 7% na América Latina e Caraíbas. Depois vem a Europa Central e do
Leste, com 5% e outros países em desenvolvimento, com 27%. A situação mais
preocupante é encontrada no Niger. Apesar de a agricultura do Níger ter sido,
este ano, mais produtiva, cerca de 20% das crianças padecem de desnutrição
severa e aguda infantil, afetando, esta última, 15 em cada 100 crianças menores
de cinco anos.
O cenário nos 35 países mais ricos do mundo
começa também a ser alarmante, quando já são contabilizadas 30 milhões de
crianças pobres (15% da população infantil assistida pelo Unicef), das quais 13
milhões se encontram na Europa. Indiscutivelmente que, em face da necessidade
de cumprimento das metas dos Objetivos do Milênio até 2015, se torna muito
difícil aceitar que, em todo o planeta, cerca de 5,6 milhões morram de fome
anualmente (mais de metade de todas as mortes na infância) e outras 852 milhões
de crianças vegetem com este flagelo. Porém, mais difícil se torna compreender
o grau de desumanidade a que chegamos, quando as estimativas da Nações Unidas
nos informam: com US$13 bilhões adicionais (ao que se destina atualmente, uma
cifra que nunca foi atingida) se poderia garantir saúde e alimentação básica
para todos os habitantes dos países em desenvolvimento. Um valor exíguo
comparado aos bilhões de dólares atualmente destinados à publicidade comercial
(muito dela enganosa), US$400 bilhões gastos em medicamentos tranquilizantes,
ou ainda US$8 bilhões gastos em cosméticos nos Estados Unidos.
Mesmo com o impiedoso bloqueio econômico, comercial e financeiro,
imposto a Cuba, desde 7 de fevereiro de 1962, o segredo deste sucesso reside
nas boas práticas. O estado cubano consegue garantir às crianças uma cesta
básica alimentícia e promover os benefícios do aleitamento materno, mantendo,
até aos quatro meses de vida, o aleitamento exclusivo, completando-o com outros
alimentos, até aos seis meses de idade. Todas as crianças até os 7 anos de
idade têm direito a receber um litro de leite, além de compotas, sucos e outros
mantimentos distribuídos de forma equitativa. Para o ano de 2015, dentre seus
objetivos, Cuba também procura eliminar a pobreza e garantir a sustentabilidade
ambiental. Se lá chegarem, dão, a todo o mundo, uma autêntica lição de vida em
sociedade. A “ética universal do ser humano”, inseparável da prática educativa,
de que nos fala Paulo Freire, em sua obra Pedagogia
da autonomia: saberes necessários à prática educativa, deve ser seguida por
estudantes e professores, já que as instituições educativas são o primeiro
núcleo de formação de quadros necessários ao progresso econômico e social, bem
como à reprodução de valores, que moldam o comportamento dos cidadãos. A
instrução, por si só, não é o quanto basta para que crianças, adolescentes e
adultos possam inculcar hábitos de conduta social necessários à cidadania e ao
desenvolvimento sustentado. É necessário que, em todas as instituições
educativas, haja, também, um quadro axiológico de referência.
Um “saber, saber-fazer e saber situar-se” deve marcar, no futuro, o
perfil do diretor de escola e do professor que necessitamos para o nosso
desenvolvimento. De acordo com o princípio de Hobbes, se os bons exemplos não
vierem a partir de cima, de quem é detentor de maior responsabilidade ou
autoridade, em níveis mais baixos ninguém sente a obrigação ou a necessidade de
cumprir boas regras e evitar atitudes de comportamento social desviado. Este
parece-me ser um dos aspectos relevantes da filosofia de educação em Cuba, para
conseguir chegar onde mais ninguém chegou.
Filipe Zau é Ph. D em Ciências da
Educação e Mestre em Relações Interculturais.
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