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Há 166 homens ainda em Guantânamo. |
Sofia Lorena, via Publico
de Portugal
“Posso ter de morrer. Espero que não, quero voltar a ver a minha família”,
diz Shaker Aamer, há 11 anos na prisão da baía de Cuba.
Podem ser 84 ou 77: são muitos e mais do que se pensava os prisioneiros
de Guantânamo em greve de fome. Alguns iniciaram o protesto contra a detenção indefinida
e as condições do centro a 6 de fevereiro.
Segundo disse ao jornal The Miami
Herald o tenente-coronel Samuel House, 77 dos 166 prisioneiros que permanecem
na prisão norte-americana estão em greve de fome. Destes, 17 estão a ser alimentados
à força através de tubos inseridos nos seus narizes, o que alguns dos advogados
consideram tortura.
De acordo com responsáveis militares dos Estados Unidos citados pelo diário
britânico Guardian são já 84 os grevistas,
mais de metade dos prisioneiros. O último balanço oficial dizia que 52 prisioneiros
estavam em greve de fome.
Um dos que se recusam a comer é Shaker Aamer, há 11 anos na prisão da baía
de Cuba e há seis à espera de ser libertado, depois de ter sido declarado que não
constituía uma ameaça.
“Agora, tenho nódoas negras em todo o meu corpo. Penso que faço marcas mais
facilmente, há 60 dias em greve de fome, com as minhas defesas físicas a quebrarem”,
escreve Aamer num texto publicado no Independent.
“A greve de fome de Guantânamo é, no fim de contas, um protesto contra a
Grande Mentira de George Orwell”, escreve. “A Grande Mentira aqui é a ideia de que
manter 166 prisioneiros em Cuba de alguma forma torna a América mais protegida do
extremismo. Numa espécie de filme épico de Hollywood, a América é o bom polícia
do mundo, que põe as algemas nos maus. Estes 166 malvados poderiam, aparentemente,
derrubar uma nação poderosa, caso não estivessem trancados 24 horas.”
Um movimento sem precedentes
Guantânamo foi o centro de detenção escolhido para os suspeitos de terrorismo
depois dos atentados do 11 de Setembro, a solução da Administração de George W.
Bush para “os piores dos piores”, na expressão de Donald Rumsfeld, então secretário
da Defesa. Mas como recorda Aamer, dos quase 800 homens que por ali passaram desde
janeiro de 2002, “613 prisioneiros foram enviados para casa e os EUA consideraram
não perigosos 86 dos que ainda estão neste lugar esquecido. Ao todo, isso são 699
pessoas, mais de 90% do total.”
Esta não é a primeira greve de fome de Guantânamo, mas está a ser levada
mais longe por parte dos prisioneiros. No início do mês, alguns já tinham perdido
20 quilos. David Remes, advogado de 15 presos, 13 deles em greve de fome, dizia
há duas semanas que este movimento de protesto “não tem precedentes, tanto pela
amplitude como pela duração e determinação”.
Os prisioneiros deixaram de comer quando se soube que alguns guardas tinham
voltado a desrespeitar o Corão. A 6 de
fevereiro, durante uma busca, os guardas confiscaram objetos dos presos e em algumas
celas o Corão foi examinado de uma forma
que os presos consideraram ofensiva.
O protesto evoluiu e, para alguns, parece ter-se tornado num caminho sem
retorno. “[Agora] a greve de fome é por
eles me terem dito há seis anos que eu podia ser libertado e voltar para a minha
mulher e os meus quatro filhos, mas aqui estou eu, ainda em Guantânamo”, escreve
Aamer. “É sobre o homem no meu bloco de celas que está numa cadeira de rodas, ou
estaria, se eles não lha tivessem tirado em protesto pela greve de fome.”
“Posso ter de morrer”, escreve
Aamer. “Espero que não, quero voltar a ver a minha mulher e a minha família.”
Leia também:
Preso sem julgamento e em greve de fome: O depoimento de um detento em Guantânamo
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