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Em Cuba, a construção de
casas é uma prioridade
na atual reforma econômica. |
Ciego de Ávila, Cuba, 3/7/2013 – Casas de grossas paredes de alvenaria e resistentes
tetos de concreto armado, que parecem resistir a qualquer tempestade tropical ou
furacão, se erguem na periferia desta central cidade cubana, graças à incipiente
produção local de materiais de construção. “As pessoas vão melhorando suas casas
neste bairro, que é bastante novo. Nós apoiamos os moradores e trabalhadores daqui,
que compram os materiais e nós emprestamos a máquina de fazer blocos”, contou Alcides
Pérez, dono de uma pequena fábrica de blocos. “Cobramos apenas a eletricidade que
gastam”, acrescentou. Encravada nos arredores de Ciego de Ávila, 434 quilômetros
a leste de Havana, esta indústria artesanal e ruidosa pode produzir com fornecimentos
constantes até mil tijolos de concreto por dia. Conta com três moldes para elaborar
igual número de tipos de tanques de asbesto cimento, que levam a marca “Alcides,
C. de Ávila”. Duas processadoras de cimento, carrinhos de mão, pás e uma máquina
elétrica que faz dois blocos por minuto são operadas por sete homens, enquanto duas
mulheres participam dos trabalhos de acabamento e preparação da matéria-prima. A
equipe oferece os serviços de traslado dos tanques e montagem em tetos ou como cisternas.
Para
obter a matéria-prima, Pérez e seu grupo viajam às fábricas de cimento de Sancti
Spíritus e Santiago de Cuba, respectivamente a 360 e 847 quilômetros a leste de
Havana, para recuperar resíduos jogados fora, que depois misturam com o cimento
comprado em lojas estatais para fazer seus blocos e tanques. A construção de casas
é uma prioridade na atual reforma econômica do país. Por isso, entre as primeiras
mudanças figurou a venda de materiais de construção em moeda nacional, a diversificação
da oferta e a abertura de créditos e subsídios para famílias de baixa renda.
As
autoridades esperam que, dentro de dois anos, 70% das atividades produtivas do setor
habitacional sejam realizados por atores não estatais, buscando revitalizar um setor
centralizado durante décadas pelo Estado. Boa parte das moradias precisa de reparos
estruturais, devido à deterioração do fundo habitacional por problemas econômicos
que o país arrasta há mais de 20 anos, ao descumprimento de planos de construção,
aos altos preços dos materiais e da mão de obra, e aos danos deixados pelos furacões
que com frequência atingem o país.
O furacão
Sandy, que assolou a região oriental em outubro de 2012, afetou 137 mil unidades
habitacionais em Santiago de Cuba, 65 mil em Holguín, e 8.750 em Guantânamo, as
outras duas cidades mais afetadas da região, segundo informe do escritório da Organização
das Nações Unidas (ONU) em Cuba. Os eventos extremos como chuvas intensas se acentuarão
devido à mudança climática na região do Caribe, onde o setor de moradia foi o que
menos atenção recebeu na última década, segundo a Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (Cepal).
Em
particular, os meteoros (fenômenos atmosféricos) tenderão a se intensificar com
maior rapidez, disse à IPS o meteorologista José Rubiera. Em 2008, os furacões Fay,
Gustav, Ike e Paloma provocaram os maiores prejuízos registrados desde 2001 até
a atualidade, deteriorando 647.111 casas no país. Destas, 84.737 caíram totalmente,
segundo o Escritório Nacional de Estatísticas e Informação (Onei). Diante deste
cenário, o principal desafio continua sendo aumentar a produção de materiais de
construção, um problema que começa a ter algumas soluções em nível local.
Iniciativas
privadas como a de Pérez ampliam um pouco o reduzido acesso aos blocos, um dos materiais
mais procurados nas lojas estatais. “Vendemos os blocos a cinco pesos (cerca de
US$ 0,25), como o Estado”, explicou Pérez. “O fornecimento dos materiais é inconstante
porque escasseia o cimento nos estabelecimentos. Há três meses que apenas faço reparos
e tanques, além de transportá-los e montá-los devido à falta de cimento”, acrescentou.
Rodobaldo
Ibarne, de 60 anos, apostou em alternar a produção de blocos por encomenda com seu
emprego em uma empresa estatal da construção. Só com uma pá, um carrinho de mão
e um molde, ele obtém, junto com outro trabalhador, até 80 blocos diários em Grego,
uma localidade nos arredores do município de Ciego de Ávila. “As lojas estatais
não atendem a demanda”, afirmou à IPS, acrescentando que não pode ampliar seu negócio
por problemas de saúde e falta de espaço.
A produção
de vários insumos básicos em Cuba diminuiu em 2012, segundo os últimos dados divulgados
pelo Onei. Os telhados metálicos, as telhas de asbesto cimento e as vigas de aço
negro foram os itens que mais diminuíram. Além disso, em 2011 foram concluídas 32.640
moradias no país, contra 32.103 no ano passado. Para melhorar a habitação, o pesquisador
Fernando Martirena propõe projetar materiais de construção mais ecológicos e baratos,
que sejam obtidos de maneira industrial, além de fortalecer a produção e o aproveitamento
das capacidades locais, com a criação de pequenas indústrias de ecomateriais.
A fábrica
Siguaney, de Sancti Spíritus, começou a produzir em abril as primeiras 240 toneladas
de cimento ecológico desenvolvido pelo estatal Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
de Estruturas e Materiais (Cidem), da Universidade Central Martha Abreu, de las
Villas, sob a direção de Martirena. Este cimento, à base de um produto obtido a
partir de caolim e pedra calcárea sem queimar, será comercializado a partir de 2014.
“Ele reduz o custo de produção em 28% e contribui para mitigar os efeitos da mudança
climática, ao reduzir as emissões de dióxido de carbono durante a fabricação”, ressaltou
o especialista à IPS.
O Cidem trabalha desde 1995
diretamente com comunidades cubanas no desenvolvimento de um sistema para a produção
local de materiais da construção elaborados com baixa energia e reciclados, como
telhas de microconcreto TMC, cimento pozolânico CP-40, elementos pré-fabricados
e tijolo de cerâmica vermelha, entre outras tecnologias adequadas para zonas rurais
e periurbanas.
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